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(Maria Amélia de Carvalho Duarte Francisco Luís)

sexta-feira, 2 de junho de 2006

A 1ª Máscara

Nasceu branca, pequena e branca – minto, nasceu negra, negra retinda – de tantas horas em espera, no ventre de sua mãe. Esse foi apenas um acidente. Negra retinta, quase morta e quase viva. Nasceu branca, mas a sua alma, era negra. Deu há vida o primeira sinal. Ninguém viu, era negra! Mas ninguém viu! Alma Negra, vinda de outras vivas...

Nasceu branca, de um branco quase leite. Careca. Mas logo, logo, o loiro povoou e tapou todo o tecido. Em cachos de caracóis grossos caídos sobre a cara, sobre os olhos – "verde-jade" (mar); às vezes "azuis - azuis" (céu); outras "cinza-anil" (tempestade). Indecifráveis, enigmáticos.

Colocaram-lhe outra Máscara: “Boneca”! Boneca de Porcelana. Menina Boneca! Seria a segunda Máscara, das mais de Mil que usaria na Vida...

Chegou a hora da escola. Levava os cachos doirados, amarrados, fundidos em duas tranças, que lhe chegavam às ancas. Mas o Sol tecera neles a cor da terra de África. Vermelho! E ninguém notava! A Boneca de Porcelana tinha cabelos doirados a ruivo, um ruivo tão intenso, que não raras vezes, lhe perguntavam com que tinta os pintava.

Loucos.
Não haviam que era a poeira, das suas loucas correrias, de mãos dadas, pelas terras avermelhadas, com o menino que amava? A poeira das singelas brincadeiras, ao pião, à corda, ao toque-e-foge, às escondidas, à apanhada... e das idas a ver os ninhos, sempre de mãos dadas...
E das ternuras, dos carinhos simples de meninos. Doces, puros, ingénuos... e do sol d'Africa, poente, em que se escondiam, para trocarem beijinhos... de meninos, contentes... Em África!
Ela era a própria África! De Europa mascarada! “Máscara Africana”, seria.

Continuou a crescer, os cabelos já não prendia, a adolescência à sua porta, apressada batia.
Já mulher, num corpo ainda franzino, era agora “Feiticeira”.
Chamavam-lhe Feiticeira. Feiticeira seria!
Porquê? Nunca compreendeu.
Não fazia feitiços, nem grandes, nem pequenos, não fazia, que não sabia, ou também, não precisava de os fazer – ela de si mesmo era, cruz de, sem fazer, já os ter feito.

Feiticeira! Chamavam-lhe Feiticeira. (Por esta altura perdeu a graça, quase morreu). Feitiço... Karmas!

Quando há vida voltou, deu-se Abril. Apaixonada por causas, por direitos, por deveres, levou a causa ao peito. Era guerreira. Uma outra Feiticeira. Tinha posto uma nova Máscara. “Guerreira”, era agora a sua máscara!

E assim atravessou a vida, ou será que foi a Vida que a ela se colou?.

Dos tempos de Feiticeira, recorda para a vida inteira, passos, magias. Alguma coisa aprendeu!
Começou a escrever histórias: para meninos, crianças, de todas as cores!
Que batem latas, fazendo deles tambores, que agitam plásticos no topo de uma cana, hasteando bandeiras brancas, em sinal de paz.
Para as crianças que não têm pais, nem comer, nem cama.
Nem um abraço, um beijo, um carinho, na hora de dormir.
Não têm nada! Ela sonha dar-lhe um "quase tudo". Dar-se ao sonho de partir!
Sabe que um dia irá!
Escreve para elas, sim, pensa um dia partir ... para África, para lhas contar!
Para embalar na sua gondola (braços) as crianças sem berço, e de seus braços tecer os laços, que os ajudem a crescer!
A serem crianças. Sómente... Com afectos.
Com sentimentos. Com tudo a que o ser Humano tem direito!
Dos tempos da sua infância recorda algumas histórias, como aquela em que se colocava no cimo do planalto da terra onde vivia. O Rio a Sul. A ele virava as costas... depois, de pernas bem abertas, olhava por entre o “V” às avessas. E, desse modo, vivia o Mundo!
Como ele merecia. Às avessas! O rio em cima e o céu em baixo! Castigados! Por Magia da sua Feitiçaria.

Não a castigara o Mundo, colocando-lhe à nascença a sua primeira máscara?
Branca! Raça Branca - Caucasiana!
Raça "Pura"... O que é isso de raça?

E a alma, também tem raça?. Se sim, certa estava que a sua era da Raça Africana!
E as lágrimas têm raça? Se sim as suas africanas eram!
E os queixumes, os devaneios, os ciúmes?! Têm raça?
Se sim, os seus eram sempre Africanos de raça...

Hoje é “Veneziana”. A máscara do Amor! "Contadora de estórias", aqui ao seu dispor!

“𝕮𝖗ó𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖈𝖍𝖆𝖕é𝖚”

“… palerma, chapéus há muitos”… Haver há, de certeza absoluta. Nem contesto. Mas não são meus e nunca estabeleci com eles uma relação...