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(Maria Amélia de Carvalho Duarte Francisco Luís)

segunda-feira, 9 de abril de 2018

O sono dos outros



Pintura Edvard Grieg, "Separation", 1896, Museu Munch em Oslo.

Se é para fazer, que seja bem feito; se é para ser que seja inteiro; se é para amar que seja amor (o amor é o meu objectivo, ou melhor dizendo, O objectivo maior). Concordas? …

Não me respondes, aliás e de um modo geral não respondes nunca, esse é o teu modus operandi: refugias-te na caverna do silêncio.

Continuo: … é tão difícil saber o que é o certo ou o errado, mas, se escolhes errar ou erras porque escolheste errado, então assume o erro, errando com muita classe. Oiço-me e pergunto-me: pode haver classe no erro? Creio que sim, em tudo pode haver classe, elevação, postura, atitude, até no erro ou na assunção do erro. Prossigo, em monólogo,

… a vida, segundo o meu prisma óptico, é para ser devorada à boca cheia, sorvida de forma desabrida,  ou para ser saboreada na lentidão das coisas prazerosas, e não o seu contrário, na mediania dos medíocres. E, se me perguntas, dir-te-ei que então: - estou convicta de que não faz sentido insistir, insistir até aos limites, no que não tem sinal positivo, no que não te acrescenta. E, como disse alguém, se já não é sentido, não tem sentido. A tua caminhada (é dela que falamos hoje, neste dia chuvoso de mais um Abril, não um Abril qualquer, mas neste em particular e para o qual, videntes ou iluminados, vaticinaram próxima mudança do campo electromagnético do planeta e o dia do juízo final), gerou em ti uma ideia de invencibilidade, uma ideia de posse e o poder cegou-te. E, em rigor dos rigores, as coisas são só “coisas”, e todos nós, eu ou tu incluídos, temos muitas e demais. Não só de pão vivemos, não só de prazeres mundanos, da crueza da carne… Assim era em Roma, “pão e circo”, mas desde lá até então, evoluímos, certo? Somos muito mais energia do que matéria, vamos além do corpo, do ego e até do intelecto. Somos alma. E quanto ao poder, de que te vale agora? Nesta viagem nos tempos modernos em que temos, do ponto de vista material, tudo, e a vida muito facilitada, impõe-se reflectir profundamente sobre o seu sentido, sobre a mensagem que nos trouxe aqui. Sobre o amor, portanto. Impõe-se um olhar sobre outras realidades, o tal olhar de fora, atravessando a nossa crosta, a nossa pele, se é lá, debaixo da pele que existimos … Fácil? Não, não é, mas impõe-se! – a nossa caminhada aqui, no planeta azul,  é o que fazemos com ela.

Gostas de futebol, bem sei. Então falemos dele. Compras um bilhete, escolhes o lugar e vês de onde queres ver. É-te sempre reservado o livre arbítrio, não obstante possas pôr isso em dúvida e pensar o contrário; é-te permitida a escolha do lugar e do tempo em que, da bancada, assistes ao jogo:  esse é o teu lugar. No limite poderias não ter escolhido comprar o bilhete se os lugares disponíveis não te agradavam. Mas compraste. Sentado na bancada, dás-te conta de que foi uma má escolha, e, ainda assim, é-te permitido, continuar sentado e deixar que o jogo se desenvolva à tua frente sem que, porque o lugar que escolheste não te permite ver na totalidade, possas opinar sobre uma série de lances, jogadas, jogadores: a tua visão é segmentada, condicionada a escolhas erradas e condicionada também à tua imobilidade. Entregas aos outros a criação de condições capazes de validar a tua decisão de permanecer ali – que se removam os pilares que te cortam o ângulo de visão, que se mudem os assentos incómodos, que o treinador disponha os jogadores de forma diferente dentro das quatro linhas, que se mudem as cores dos equipamentos, o relvado, enfim, que se faça qualquer coisa, mas faça: tu compraste o lugar. Pagaste e tens direitos. Pensas, esta é a minha oportunidade e não posso rasgar o bilhete, e, agarrado que estás a um sentimento de posse, nem sequer equacionas tentar trocar de lugar e ter outro ângulo de visão, outro ponto de vista. Ainda que nessa troca saias a perder, a escolha venha a manifestar-se de novo errada. Mas tu tentaste, procuraste novas abordagens ao problema, permitiste que se instalasse em ti a convicção de que fizeste a tua parte e uma vez feita a entregaste – o que vem depois não é tarefa tua. Ou nossa.
Nossa é, deverá ser, a preocupação com o sono dos outros …

“𝕮𝖗ó𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖈𝖍𝖆𝖕é𝖚”

“… palerma, chapéus há muitos”… Haver há, de certeza absoluta. Nem contesto. Mas não são meus e nunca estabeleci com eles uma relação...