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(Maria Amélia de Carvalho Duarte Francisco Luís)

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

bicho-de-contas

Talvez hoje gostasse de ter escrito uma linha em teu olhar. Longa, contínua, como as que projectava quando, ainda criança, lhe ensinaram a manipular o tira-linhas e a tinta da china…
Destemperava o papel em borrões pretos e, um pouco a medo, persistia. Uma e outra vez. Era certo que a mão tremia, que as linhas teimavam em acompanhar o pulsar nervoso do coração. O medo do borrão. O preto do borrão. Continuava. Enchia o peito de ar, enchia o tira-linhas de negra tinta e, nos temores de menina em veste branca, tenaz, avançava. E por fim, linhas rectas e encurvadas, no rigor do esquadro e da régua-cobra, sulcavam determinadas o papel cavalinho a que estavam destinadas. As linhas? O papel? O papel, as linhas? Um binómio indivisível, do que se recordava...

Talvez hoje gostasse que lhe tivesses inscrito vastos horizontes em seu olhar… nem sequer corria uma aragem… estava serena e calma. Pálida, sorria. Sorria apenas …
Em frente, ao largo, no perto e no longe, o mar da palha … e o rio, e mais longe ainda a ponte e para além dela o Bugio (imaginava …).

Depois havia bancos de pedra, havia as riscas brancas e azuis, o azul do rio. O céu plúmbeo. Eram azuis ou verdes as caravelas nas pedras da calçada? E as sebes? Nesse instante já nada via e do que via, desfocava …

Sabe que chovia. A chuva lambia-lhe aguada a cara, os olhos, a boca… a chuva encharcou-lhe as botas, o negro das botas, e destas se tingiram de negro igual as pernas brancas (o borrão, o papel...); a chuva empapou-lhe as calças, gelou-lhe joelhos dobrados no cotovelo incerto do tempo. A chuva escorria agora, lenta, nas sancas das janelas...

Por essa altura, desalentada, enrolava-se em contas fortuitas de bicho-da-seda. E contas outras, de bicho-de-conta…

“𝕮𝖗ó𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖈𝖍𝖆𝖕é𝖚”

“… palerma, chapéus há muitos”… Haver há, de certeza absoluta. Nem contesto. Mas não são meus e nunca estabeleci com eles uma relação...