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(Maria Amélia de Carvalho Duarte Francisco Luís)

quinta-feira, 7 de março de 2013

Além daquilo que [nos] faz chorar.



Além daquilo que faz chorar os poetas, que faz com que 
os soldados se lancem para a frente e percam a vida 
à luz do sol: que será, Bill?           
(Carl Sandburg)


Morriam lado a lado como peixes podres com os olhos esbugalhados ao ridículo da questão. Por vezes, quando o Inverno lavrava leivas desapegas na argila lisa, improperando os terrenos à caminhada, impondo tempos de pousio em vésperas de cultivo das novidades, quando o frio antecipava a morte e lhes impregnava a pele no mofo de pregas vincadas - "féleo jugo" de ser pó e ao pó voltar -, davam-se conta, ainda que de forma ténue e nunca verbalizada, de que, dia a dia, esmoreciam de vontades e de futuros em afasias e extemporaneidades. Aí os dedos aproximavam-se aos gestos.

Mas não havia liturgias nem salmos nem oráculos divinos. Tudo era, à luz negrejada pela noite lá fora (e dentro de cada um) uma espécie de função utilitária onde só os corpos fermentavam em leveduras requentadas; os olhares, de baços,  já não se nutriam de palavras e, dia a dia, morriam. No canto espúrio dos olhos dela, por vezes havia ainda uma luz, centelha fortíssima à força de pedra. Jade, onde as lágrimas resilientes nascidas algures numa nascente de serra se retalhavam antes de tombarem largas a eviscerarem, iguais às chuvas torrenciais, o tecido do rosto. No canto espúrio dos olhos dele, no modo inverso, parecia já não haver espaço a manietações gravíticas, inquietações, desideratos sódios ou sequer projectos adocicados.

Em tangência virtual, vendiam-se ao tempo que passa, por dois reis de sobrevivência. Em litologias de anjos barrocos e olhares de peixes mortos.

Dela ainda a esperança de ser Fénix. Além do que fazia chorar os peixes. Vertebrados. 


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Publicado in A Arte pela Escrita, Três, pg. 164,  Mosaico das Palavras, Editora, Rio Tinto, 2010

“𝕮𝖗ó𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖈𝖍𝖆𝖕é𝖚”

“… palerma, chapéus há muitos”… Haver há, de certeza absoluta. Nem contesto. Mas não são meus e nunca estabeleci com eles uma relação...