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Lisboa / V.F. Xira / Peniche, Estremadura, Ribatejo ..., Portugal
(Maria Amélia de Carvalho Duarte Francisco Luís)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

basalto

quando te talhei no basalto dos meus dias, pedra angular onde despertam verbos de cansaço, procurava a linha original do beijo porque ansiavam os meus lábios, o antídoto,  a sombra clara das dunas em poças de marés,

quando te bordei, epigrama, no linho colhido na estepe selvática,  respeitei o rigor do ponto, a bordadura antiga –  à luz da candeia estilhacei cada pálpebra ou membrana ocular,  todas as pestanas do silêncio,  todas as palavras desnecessárias, todos os desconfortos implacáveis da expulsão do paraíso.  num jogo de tesoura papel ou pedra fui  peleja desabrida quando,  fora de mim o mundo dormia e acordava louco,  e eu  imaginava a minha pele na tua,  a renovação boreal das horas,  as quatro estações de Vivaldi, os lóbulos das orelhas, os  labiais,  carnudos, vagarosos,  pássaros  cor de lima –  a coisa nomeada –  insulas onde a língua  tivesse o sabor a sal e menta, a saliva se profanasse a adentrar a simplicidade terrestre e eu fosse,  da tua cítara a nota final intentada,  pianíssima nota de partitura adquirida a desfolhar primaveras,

na espuma de teu olhar leio o tardio desta hora  –  tão velhas as palavras, como ângulos, cabos rasos sem luz quando, os dedos das fadas roxas gemem na ombreira das portas,  o zimbro tomou conta das roldanas dos estendais,  e [me] gemem e guincham como ratos à beira do precipício em cordas aflitas,  ao mesmo tempo que as meadas multi-cores fenecem por tecer  no horizontes das coisas raras  um singelo arco-íris, e eu não estou certa de que ainda me recorde, do macramé básico,  ou  a forma elementar de realizar
o nó de cotovia,

e ainda assim jurei de acreditar que a fala d'alva era a semente, a consistência da luz  anterior aos ciprestes,  a água igualada a semi-colcheia  que nos brota,  nubífugos, em mapeamentos mentais dos punhos,  compassos abertos de emoções em rocha ígnea, dura e escura,  a mesma que [nos]  incendeia os olhos  no mistério das ondas e nos faz ser crentes de que,  o limite dos homens será sempre o local onde se precipitam as aves e desaguam os rios.  na efemeridade dos instantes  -   lugar da partilha, a incensar, galhardamente, o vento.
sem dúvida que me dirás - há um certo bucolismo em tudo isso, e te respondo, por certo sim, são apenas margens  no poema do teu corpo onde me repousam as claridades de uma certa calma tão necessária, e é, creio,  quanto nos  basta para que não se melancolizem os lábios e as palavras vitais,
as que,  antes de todos os nós, sabiam dos carreiros das formigas, do maturo das colheitas e das vinhas da ira,
e nos conduziram, cândidos e fundíveis,  pelos caminhos do amor,  trilhos de Santiago,
          ... descalços. 


“De todas as coisas, a menos susceptível de se comunicar é o amor; mas a fé no amor, essa age  sempre com um conhecimento acessível a todos os homens” 
Agustina Bessa-Luís, Aforismos.

Imagem da net

“𝕮𝖗ó𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖈𝖍𝖆𝖕é𝖚”

“… palerma, chapéus há muitos”… Haver há, de certeza absoluta. Nem contesto. Mas não são meus e nunca estabeleci com eles uma relação...