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(Maria Amélia de Carvalho Duarte Francisco Luís)

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Chão de maças ...

Chão de maças…
Agora nu, gretado de tão esfriado, já não retém o cheiro no vazio perpetuado e na geada das manhãs. Nas franjas das suas saias e na ponta roxa das canelas apenas a lama recorda a enxerga pálida, o leito ardente d’antigamente.
O chão lavrado, o mar arado …
Caíram as últimas folhas…
De reduzido metabolismo restam apenas as que o céu silvestre de Inverno agasalha e talha. As persistentes.
As insistentes.
Friccionava as mãos de gestos dormentes. Olhava o infinito campo e nele o tempo dos ramos elevados aos Deuses, dos ramos afilados a perfurar planos. Todos os seus planos. O verde dos frutos, os frutos e os sucos, e os fluidos astutos. Mecânica de fluidos.
Fluía fria no confuso dos pensamentos. Dos sentimentos.Olhava o campo, o descampado retalhado do momento. Escorria em orvalho e logo sangue, em labareda acesa por cada berma, por cada atalho, por cada filamento de roseira ainda não podada, por cada nogueira hoje arrepiada p’lo incessante frio.
Chão de maças …
Abrigava-se em paredes de pedra negra, no xisto da aldeia perdida na serra. Da sua serra. Ao longe o barulho das pedreiras, o sibilar das pedras na encosta dos medos. Dos seus medos, os medos de menina sozinha nos corredores da vida.
“…não me deixarás mais só?...”
“…não, Teresa, nunca mais!” Deixara! De novo e outra vez. E outra vez de novo …
De novo … na novidade conhecida de se reencontrar a sós consigo nos corredores de uma noite interminável de tão comprida. Perdida!
A noite escura, a fruta apodrecida de tão madura. Os porcos e as pias e as manjedouras vazias. As ovelhas brancas numa dança tenra, os cães ao lado. Sem guia e sem pastor, apenas os seus olhos reconduziam o gado, por entre a sequência de factos ininterruptos e sucedâneos e de jardins excêntricos.
Sem aviso, desfolhavam-se agora em rosáceas folhas quando recordava um texto de um livro antigo, num outro tempo, num outro acto. O argumento, o facto, o contra facto: “quem ama a poesia anda sempre de mãos dadas”…“ Teresa, quero-te  para sempre de mãos dadas comigo…”.
Tanto sentido. Todo o sentido. Chorava e sorria… Dera-lhe as mãos, a alma, o coração. Dava-lhe agora uma a uma, todas as lágrimas com que adubava a crisálida e a magnólia, as que, teimosamente, se transmutavam ou refloresciam sob o céu aguado …
                                   Chão de maças…

Imagem da net.

“𝕮𝖗ó𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖈𝖍𝖆𝖕é𝖚”

“… palerma, chapéus há muitos”… Haver há, de certeza absoluta. Nem contesto. Mas não são meus e nunca estabeleci com eles uma relação...