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(Maria Amélia de Carvalho Duarte Francisco Luís)

sexta-feira, 14 de março de 2008

Velejam-se faluas leves

O Sol é agora um tempo de jejum em mesa farta.
Recolhe-se a medo, serpenteado no vermelho do xadrez
Na renda alva e pontilhada
No ponto simétrico desenhado com mil cuidados numa agulha sem farpa.

Realizo: Um pau, uma laça, duas malhas elevadas e de novo o aconchego brando do tecido,
o algodão ardente de noites demarcadas entre luzeiros de espuma e plenitudes de bruma.

Da pontilha na toalha, a teia, que se abre do baixio ao cume do monte.
A Lezíria alagada num Tejo sempre menino e ao cimo o rio, e o mar, e um mapa por se encontrar.
Velejam-se faluas leves.

A vinha vindimada no Outono de ser palavra adormece exausta nas cepas retorcidas, sem folhas e frutos e acorda de novo em veias de seivas robustecedoras.
Permanecem registos de granizo nos telhados, nas janelas de vidros fragmentados e nas pistas matizadas.
(E nas orlas dos carreiros… por onde o vento não passa).

Afundo-me no poema e na palavra, indiciada no rebusque de mim, tela inacabada, na cor e no cheiro. Talvez seja amarelo, avermelhado. Ou quiçá translúcido.

Aguça-se a alma ao toque assíncrono de flores já tão mirradas, no túmido de pétalas desguarnecidas em queda solta. Soçobram-nos sentenças, sempre mendigas, e delas, todas as dúvidas, todas as perplexidades de um tempo ambíguo, de cantos reclusos, vacilantes.

Equidistantes os nossos passos e a dança que nos dança, navegantes, na pele do vinho mosto, no ébrio do desejo, deste que estala em arroubos desmedidos a crosta dura da encosta, em assomos frementes d’ansiedades. Toda as manhãs, todas as tardes …

O Sol é agora um tempo de jejum em mesa farta.
Caminhamos nas mãos deslaças, bebemos o ópio de um verde-salsa em veredas d’hortos vacilados ao carisma irracional de um trato.

Velejam-se faluas leves num tempo de um verbo que se não escreve.

(Nov.2007)

in "Textos Esparsos" © Todos os direitos Reservados

“𝕮𝖗ó𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖈𝖍𝖆𝖕é𝖚”

“… palerma, chapéus há muitos”… Haver há, de certeza absoluta. Nem contesto. Mas não são meus e nunca estabeleci com eles uma relação...