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(Maria Amélia de Carvalho Duarte Francisco Luís)

domingo, 7 de junho de 2009

"in Pulsos..." nossos ...


Aconteceu ontem, ao fim da tarde. Lisboa, Campo Grande 56...

Ali, entre um auditório cheio de amigos de vários quadrantes, Cleo deu à luz o seu filho literário primogénito. A mim coube-me a muito honrosa tarefa de o "amparar" com as minhas próprias palavras.

E, porque o fiz com muitíssimo prazer e grande amizade, aqui vos deixo esta nota, caríssimos leitores e o esboço de que me socorri para o momento ...
***

.... Em primeiro lugar cabe-me agradecer veementemente o convite que a Cleo (Lurdes Dias), me fez para, neste dia especial para todos nós, seus amigos e companheiros de palavras e, muito em particular para ela (o Lançamento do seu primeiro livro), estar aqui a seu lado e não ai, na plateia, onde certamente estaria de igual modo...

De seguida, agradecer a todos vós, a presença. E, claro, e não menos importante, à Editora por ter convencido, sublinho… convencido a Cleo a sair da tela e dar-nos o prazer de a ler num qualquer lugar …

O livro é e será sempre um dos principais canais de aproximação entre o autor e o leitor… sem esquecer que ainda existem muitas e muitas pessoas que não dominam as novas tecnologias …

Posto isto, apenas uma pequena nota pessoal, e, de imediato passarei ao “busílis da questão” que é como quem diz… falar da Cleo e da sua obra…

A tal nota: A Mel (eu) e a Cleo (ela), cruzaram-se um dia no blogoesfera…
tinham outros nicks, como é natural nestas coisas...

A Cleo, Medusa … quanto a mim….Sorry … esqueci… e, em rigor também pouco importa, na medida que é da Cleo que hoje queremos saber.

Apenas fica o registo e o sublinhar que, se hoje a Mel tem poemas em várias Antologias, livros publicados, mais de mil poemas registados, etc... deve-o, em boa parte a esta amiga, que, desde o primeiro instante a impulsionou a publicar… a aderir a sites…

E destas coisas se fazem amizades,
e destas coisas e nestas coisas se definem as pessoas …
cumplicidades, partilhas, valorização do outro, generosidade.
Coisas tão inversas a mesquinhez e a invejas pequeninas…

Eis pois, em traços largos aquilo que ao longo destes cerca de três anos encontrei na Cleo… no seu carácter, no seu modo de estar e de ser ...

Repito, sintetizando: Desprendimento, generosidade, simplicidade …

Agora então o tal “busílis da questão” … Falar da escrita da Cleo.

Agora, meus amigos, companheiros de e nas palavras… é aqui que - usando uma expressão popular - , perdoem-me “a porca troce o rabo, se rabicha não for” … podem rir, eu “autorizo”, não esqueçam pois que, tanto a Cleo, como eu mesma, somos de aldeias e/ou crescemos em aldeias… e lá e por lá a sabedoria popular impera …

Pois é… Lamento... mas pouco ou nada há a dizer sobre a escrita da Cleo…

Ou melhor… eu, a tal "prolixa Mel", não tenho, não encontro, palavras melhores para classificar, definir, catalogar a escrita da Cleo, se não as suas próprias…

Ora permitam-me então que a leia, em prosa:

“Simplicidade das palavras” … pág. 15 …

“Hoje alimento-me das palavras, a maior parte delas, encontro-as escritas, nos mais variados sítios por onde me passeio nos fins de tarde dos dias mais ou menos vazios... ou pelas madrugadas fora, na ausência das horas que me controlam, mas que por um qualquer motivo, ficaram presas no relógio pendurado naquela parede branca atrás de mim e para onde nem sequer olho...
Palavras escritas, faladas ou ouvidas, são palavras que definem sentimentos. Podem confortar, alegrar, dar esperança ou tirá-la… podem excitar, insinuar, esconder ou mentir. São apenas palavras…
Algumas dessas palavras são tão belas, que me recuso a colhê-las para mim, deixo-as ficar no mesmo sítio, para que possam ser admiradas por todos os olhos que as encontrem também. Outras são demasiado caras, sempre o foram e só com um dicionário por perto, as conseguiria alcançar, mesmo não sabendo muito bem o que fazer com elas... por isso nem sequer lhes tento chegar perto. Outras ainda, são demasiado floreadas e engenhosamente complicadas de modo que de nada me serviriam também, por isso, deixo-as para os entendidos. Há ainda aquelas, que me acenam com sorrisos, mas são demasiado oferecidas, não as levo, deixo-as ali, para que outros se sirvam...
Há também aquelas que magoam, que me ferem os sentimentos e me entristecem profundamente… não as quero, não as desejo nem as ofereço a ninguém. São horríveis!
Sou esquisita, só gosto daquelas outras mais simples, que me enchem o olho logo no primeiro encontro e é dessas mesmo que me alimento e as devoro logo ali, naquele preciso momento.
Hum... que delicioso banquete este, de palavras suculentas e cheias de vitaminas, que me satisfazem e me dão um novo alento. Mas as palavras não são tudo..."

Não, de todo não, caríssimos senhores aqui presentes. As palavras são importantes, em certos casos determinantes, mas não são tudo.

Mas das de Cleo dizem
tudo ... (ou quase tudo dito)…

A prosa de Cleo é uma limpa, clara, sem subterfúgios, sem pedantismos, e porque assim é, chega-nos ao mais profundo de cada um de nós, provocando reflexão… provocando vontade de retornar ao ponto de partida e reler…

.... (desde sempre lhe disse que era fã da sua prosa … )

E quando a lemos num outro registo? Como se expressa, como se manifesta, Cleo em poesia?

De novo … nada a dizer: A Cleo deixa que a sua escrita fale mais alto e nos cale para que a possamos, atentamente, escutar:

Atrevo-me a lê-la …
(perdoa, Cleo, mas sou amadora nestas lides …)

“Divagações sob uma folha branca …” – pág. 42

Soubera eu
Ser poeta
Ou poetisa
Como também se diz

E não me desolaria tanto
Com o branco
Desta folha nua...

Talvez escrevesse sonhos
Desejos
Magias
Segredos
Ou degredos
Que por vezes
Me povoam
Os pensamentos
E me adornam os dias
Até os mais cinzentos

Porém...
Não sou capaz!

A poesia
É dos que a transpiram
Que a fazem sua
Nas madrugadas claras
E caladas
Sejam Verões quentes
Ou Invernos chuvosos e frios
Não importa muito...
O que importa sim
É o acto em si
Em que o poeta e sua amante
Se embrenham um no outro
E se entranham
Consumando aquilo que alguns apontam
Como um acto ilícito
Mas que importa isso?!
Se eles o fazem
Ali mesmo
Sem pejo
Nem preconceitos
Sem testemunhas
Que os incriminem!...

Não...!
Desenganem-se aqueles
Que a pensam sua
Só porque a roubaram dos outros
Os desacautelados
Que a deixaram ao abandono
Num qualquer algures
Mas que a reconhecem de imediato
Mesmo que vestida de outra cor
Que não aquela com que a deixaram
E que a sabem sua
Para todo o sempre
Esteja ela onde estiver!

Mas também não é daqueles
Que a desprezam
Com crueza
Com frieza
E arrogância
Logo após a serventia
Qual prostituta barata
Da antiga rua direita
Da cidade de Coimbra...

E com tudo isto
Só agora reparei
Que me enrolei
No fio da meada
Que me trouxe até aqui

Foi já tanto
O quanto divaguei
Que me esqueci
E já não sei
Ao que realmente vim!

Ah! Já sei!
Dizia eu...
Que talvez escrevesse sonhos
Desejos
Magias
Segredos
Ou degredos
Mas porque será que não consigo
Derramar nesta simples folha
Tudo isso?!
Fogem-me as letras
Das palavras doces
E fico sem saber
Como as escrever...
Por isso
Fico-me com a raiva
Presa ao que não escrevo
E ao azedo
Do arroto que me saiu sem querer

E fito a folha
Que me sorri com desdém
E que continua aqui
Bem diante de mim
Assim... despida...
Sem vergonha
Nem culpa
Visto que essa
Essa...
É só minha!"

Por fim, e para não vos cansar, vejamos este outro poema, partindo do seguinte questionamento:

O que faz a Cleo com as “horas que lhe sobram”?
… sobrarão muitas horas a quem trabalha, a quem é mãe, a quem é mulher? … À partida não …
digo eu ...

Todavia

deixo-vos a resposta de quem sabe que o tempo tem um tempo de ser tempo e que, o que deixamos escrito perdura muito para além de nós, perdura ad eternum…

“Nas Horas que me Sobram” …. Pág. 28 …

Nas horas que me sobram
Dos dias que me fogem
Procuro o que me escapa
Nas entrelinhas do que escrevo...

São pequenos detalhes
Das coisas que não vejo
Mas que pressinto...
Estão lá
Em cada vírgula que não meto
Em cada ponto final que não uso
Até nas interrogações que por vezes me faço
Nas afirmações que admito
E nas reticências que me denunciam...

É este o meu livro
De matéria virtual
Que escrevo em tela negra
Sem festa nem pompa...
À mercê de um qualquer vírus
Que o apague dos registos
Ou o leve sem destino...

Não me importo
Escreverei outro
Tenho tempo...

Até que alguém se lembre
De me obrigar a parar!"
***

Posto isto, palavras minhas para quê, meus amigos?

As da Cleo são, indubitavelmente mais fortes, mais reveladoras, da sua obra e da sua pessoa…

E, tal como dizia Alçada Batista que, infelizmente não está mais entre nós, “melhor que qualquer biografia ou até autobiografia, a obra do autor…”

Partilho o pleno desta afirmação. In pulsos, em formato livro, fala sem necessidade de imagens ou sons (a que a nossa Cleo se socorre nos seus blogs e que lhe conferem uma tónica muito própria, sem dúvida...). In pulsos em formato papel, basta-se a si, pela força da palavra.

In Pulsos é, em suma, e no meu entender, uma obra vestida de uma enorme e genuína simplicidade, quer linguística quer estrutural, e, por essa razão, muitíssimo bela.

Bem-hajas Cleo por nos teres dado este presente!

***
Foto: "roubada ao bloguista "Rouxinol do Pomar"... Obrigada Sr. Rouxinol ...

“𝕮𝖗ó𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖈𝖍𝖆𝖕é𝖚”

“… palerma, chapéus há muitos”… Haver há, de certeza absoluta. Nem contesto. Mas não são meus e nunca estabeleci com eles uma relação...