Deméter, era vizinha de Antonino, a dois passos de Antonino, quase que lhe podia sentir o cheiro a lavanda.... Também ela era tímida, reservada, até mais do que isso, aparentemente congelada. Congelada por séculos de espera e de solidão.
Aí, um dia conheceu Antonino. De mansinho, percebeu que não estava mais só. Fora o olhar dele, um olhar queixume, foram os passos baloiçantes, leves, carregados de magia e de voos prometidos, ou apenas o som de batuques ao longe, não sabia!
Sabia apenas, que deste esse dia, se havia, para sempre, consagrado a ele. E, sem que ele soubesse ainda, lhe oferecera o seu olhar em forma de poema e com ele colocara estrelas no firmamento, guias, por onde um dia, igualmente sem saber, Antonino se haveria de projectar e viajar nas palavras.
Deméter não tentou impedir-lhe o voo!
Adorava vê-lo voar, asas abertas, num voo agitado, às vezes, acalmado outras, picado, noutras... Asas abertas, sem destino obrigatório, é certo.
Mas sabia que a todas as Primaveras, Antonino voltaria.
Voltaria para sorver o seu olhar maresia, o seu olhar poema. E com ele preencher telas infinitas de um amor maior que o espaço!
Da sua janela, vira Antonino a plantar pimenteiros nos passeios e percebeu. Então queria ele que provasse o picante-escaldante da vida? O picante da Paixão? Pois seria! Antes que a polícia chegasse e arrancasse um a um os pimenteiros, pela calada da noite apanhou as malaguetas coloridas de vermelho, macerou os frutos no mais fino azeite! Com este ópio se unge e se purifica, nas horas em que, sob a lua crescente, na magia das palavras, ambos se encontram e se amam perdidamente.
Deméter conhece-se-lhe todos os trilhos, todos os atalhos e isso faz dela a mais amada das mulheres!
Sim, também ela de amada passou a abandonada. Mas só fisicamente... Vive uma vida nova, sem incertezas. Tem as suas rotinas ... e, uma delas, é a de, todas as manhãs, procurar o seu Pólo, um cão que a acompanhou durante anos, fiel, e que a ajudou a manter acesa a esperança de vir a ser, um dia, apenas gente.
Deméter voa agora, suspensa nas asas do seu Anjo!
Recorda o tempo em que as asas estavam coladas ao corpo, como que incapazes de gerar afagos... Mas Antonino passou por perto e, como que por magia, o corpo estremeceu e o milagre da vida (uma nova vida) aconteceu. Deméter renasceu em Maio! E percebeu que uma ave a voar parada pode ser uma ave morta e não quis voltar.
Diz quem viu, que hoje, no céu estrelado da noite, voam dois pares de asas, tão, mas tão fundidas, que não se sabe onde começam umas e as outras acabam.
Deméter já não tem só sonhos. Vive o sonho!!!!
Sabe que a vida que vive agora, num voo supremo, é bem melhor que sonhar, aprisionada que estava num corpo de vidro fino!
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Conto originalmente publicado aqui
Nota:
Aí, um dia conheceu Antonino. De mansinho, percebeu que não estava mais só. Fora o olhar dele, um olhar queixume, foram os passos baloiçantes, leves, carregados de magia e de voos prometidos, ou apenas o som de batuques ao longe, não sabia!
Sabia apenas, que deste esse dia, se havia, para sempre, consagrado a ele. E, sem que ele soubesse ainda, lhe oferecera o seu olhar em forma de poema e com ele colocara estrelas no firmamento, guias, por onde um dia, igualmente sem saber, Antonino se haveria de projectar e viajar nas palavras.
Deméter não tentou impedir-lhe o voo!
Adorava vê-lo voar, asas abertas, num voo agitado, às vezes, acalmado outras, picado, noutras... Asas abertas, sem destino obrigatório, é certo.
Mas sabia que a todas as Primaveras, Antonino voltaria.
Voltaria para sorver o seu olhar maresia, o seu olhar poema. E com ele preencher telas infinitas de um amor maior que o espaço!
Da sua janela, vira Antonino a plantar pimenteiros nos passeios e percebeu. Então queria ele que provasse o picante-escaldante da vida? O picante da Paixão? Pois seria! Antes que a polícia chegasse e arrancasse um a um os pimenteiros, pela calada da noite apanhou as malaguetas coloridas de vermelho, macerou os frutos no mais fino azeite! Com este ópio se unge e se purifica, nas horas em que, sob a lua crescente, na magia das palavras, ambos se encontram e se amam perdidamente.
Deméter conhece-se-lhe todos os trilhos, todos os atalhos e isso faz dela a mais amada das mulheres!
Sim, também ela de amada passou a abandonada. Mas só fisicamente... Vive uma vida nova, sem incertezas. Tem as suas rotinas ... e, uma delas, é a de, todas as manhãs, procurar o seu Pólo, um cão que a acompanhou durante anos, fiel, e que a ajudou a manter acesa a esperança de vir a ser, um dia, apenas gente.
Deméter voa agora, suspensa nas asas do seu Anjo!
Recorda o tempo em que as asas estavam coladas ao corpo, como que incapazes de gerar afagos... Mas Antonino passou por perto e, como que por magia, o corpo estremeceu e o milagre da vida (uma nova vida) aconteceu. Deméter renasceu em Maio! E percebeu que uma ave a voar parada pode ser uma ave morta e não quis voltar.
Diz quem viu, que hoje, no céu estrelado da noite, voam dois pares de asas, tão, mas tão fundidas, que não se sabe onde começam umas e as outras acabam.
Deméter já não tem só sonhos. Vive o sonho!!!!
Sabe que a vida que vive agora, num voo supremo, é bem melhor que sonhar, aprisionada que estava num corpo de vidro fino!
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Conto originalmente publicado aqui
Nota:
- Démeter
- Antonino (inspirado no "conceito" de vias romanas ... caminhos ..."Itinerarium Antonini")