numa destas tardes, e à conversa com um amigo, discutia o problema de dar ou não dar "nome aos bois" como por aqui, no Ribatejo, é usual ser dito. trocado por miúdos, a expressão quer tão-só dizer, não ter medo das palavras desde que, e sempre, no respeito que cada uma nos merece.
a título de exemplo, dizia-lhe eu que, a expressão "portador de deficiência" sempre me incomodou, e desde logo porque, vidé dicionário, podemos ler:
portador (ô) -1. Que ou aquele que conduz ou leva alguma coisa.
2. Encarregado de apresentar algo a alguém.s. m.
tudo dito: aquele que conduz ou leva ... encarregado de apresentar...
bom, como o SER não fosse mais importante que o que se transporta.
convicta disto, continuo a dizer que "A" ou "B" é deficiente, dando ao termo o valor que as gentes do povo dão quando chamam um idoso de velhote ou velho - no respeito e na dignidade pela pessoa humana. sem paninhos quentes.
bom, como o SER não fosse mais importante que o que se transporta.
convicta disto, continuo a dizer que "A" ou "B" é deficiente, dando ao termo o valor que as gentes do povo dão quando chamam um idoso de velhote ou velho - no respeito e na dignidade pela pessoa humana. sem paninhos quentes.
vem isto a propósito de que hoje todos os meus sentidos se arrepelaram, todas as minhas fibras de "povo", "excedentária", "descartável" e etc., se rebelaram.
e, enquanto socióloga do trabalho, com caminho feito junto daqueles que, licenciados (também mestres e até doutores), não encontraram um primeiro emprego - desempregados de inserção - dos outros que, por razões várias foram conduzidos para o desemprego - muitos deles de longa, eterna-duração - dos que, continuando desempregados, porque não subsidiados, deixaram de contar para a estatística, tendo óbvia noção de como as estatísticas do desemprego são trabalhadas, tendo conhecimento de como os apoios sociais são importantes, estruturantes, imprescindíveis, no sentido de não conduzir de modo irreversível cada um deste indivíduos para ciclos de pobreza, muita dela, como sabemos, camuflada por vergonha dos próprios, não consegui ficar indiferente a uma expressão do nosso primeiro ministro, sr. eng. José Sócrates que, no parlamento, no debate quinzenal e em resposta aos deputados quando confrontado com o facto do governo, do seu governo, não ter honrado a palavra dada por ele próprio nesta matéria e ter suprimido oito medidas importantíssimas de apoio aos desempregados e suas famílias, argumentou, com, pasme-se,
os stocks dos desempregados inscritos nos centros de emprego estarem a diminuir
stocks, meus senhores...
veja-se:
stock
(palavra inglesa),s. m.
(palavra inglesa),
Existência de géneros para venda em depósito, em armazém; fornecimento; sortido. (vidé priberam)
fiquei sem palavras.
que até agora nos viam como números, sem novidade. que, de ora avante, somos "stocks", excede em muito a minha capacidade de "encaixe". o eu-político revoltou-se!!!
e, em maior desconforto fiquei por perceber que, de norte a sul das bancadas, em todo o hemiciclo, à esquerda e à direita, esta "inocente expressão" não causou nem "rumores nem murmúrios"... e lá seguiram para "bingo", um após outro, com as perguntas e respostas semi-estruturadas. fizeram todos o bonito da retórica.
a expressão, vale o que vale. quanto a mim, valeu o registo aqui, como reflexão. e a constatação clara de que, nem doirar a pílula já importa.
somos "stock", portanto ...
Foto: da net