Sobre mim ...

A minha foto
Lisboa / V.F. Xira / Peniche, Estremadura, Ribatejo ..., Portugal
(Maria Amélia de Carvalho Duarte Francisco Luís)

terça-feira, 5 de abril de 2011

bichos-de-contas

Talvez hoje gostasse de ter escrito uma linha em seu olhar. Longa, contínua, como as que projectava quando, ainda criança, lhe ensinaram a manipular o tira-linhas e a tinta da china…
Destemperava o papel em borrões pretos e, um pouco a medo, persistia. Uma e outra vez. Era certo que a mão tremia, que as linhas teimavam em acompanhar o pulsar nervoso do coração,
O medo do borrão, O preto do borrão,
Continuava a pulso,
Caminhava e sentia-se. As técnicas de relaxamento - Inspiro e expiro naturalmente. Digo sem dizer as palavras quietude e relaxar. Penso, uma e outra, sucessivas, associadas ao quando
inspiro e expiro,
e encontro-me. A lição aprendida,
Enchia o peito de ar, enchia o tira-linhas de negra tinta e, nos temores de menina em veste branca, tenaz, avançava. Por fim, linhas rectas e encurvadas, no rigor do esquadro e da régua-cobra, sulcavam determinadas o papel cavalinho a que estavam destinadas. As linhas? O papel? O papel, as linhas? Um binómio indivisível, do que se recordava...
Não sabia ainda, por essa altura, da curva de Gauss e do príncipe da matemática. Sabia contudo sem saber dos nomes, dos mapeamentos mentais, da visão partilhada. Sabia da procura das soluções em simetria espiritual quando pressentia que ambas, simetria e beleza, facilitariam o risco determinado ao processamento da mente,
A intuir-se, continuava (haveriam de lhe dizer um dia que a intuição não mais era do que um exercício da inteligência sobre a experiência), mantendo o ritmo da respiração estável, no encontro da desejada quietude mental,
Como se estivesse dormindo na plenitude do verbo,
desperta, contudo,
dava um passo mais e os olhos desciam-lhe ao asfalto enquanto palmilhava o tempo entre as frestas da calçada. Lateral a Primavera dava sinais de vida,

Talvez hoje gostasse que lhe tivesse inscrito vastos horizontes em seu olhar… nem sequer corria uma aragem… estava serena e calma. Pálida, sorria. Sorria apenas …
Em frente, ao largo, no perto e no longe, o mar da palha … e o rio, e mais longe ainda a ponte e para além dela o Bugio (imaginava …).

Depois havia bancos de pedra, havia as riscas. Brancas e azuis, o azul do rio. Eram azuis ou verdes as caravelas nas pedras da calçada? E as sebes, meu amor, Tu sabes? De que cor são os olhos da tua amada? Nesse instante já nada via e, do que via, desfocava …

Sabe que chovia. A chuva lambia-lhe aguada a cara, os olhos, a boca… a chuva encharcou-lhe as botas, o negro das botas, e destas se tingiram de negro igual as pernas brancas (o borrão, o papel...); a chuva empapou-lhe as calças, gelou-lhe joelhos dobrados no cotovelo incerto do tempo. A chuva
escorria agora lenta nas sancas das janelas...

Por essa altura, desalentada, fazendo jus à curva de Gaus, enrolava-se em contas fortuitas de bicho-da-seda. E contas outras, de bicho-de-conta…

Imagem da net
Republicação, texto revisto.

“𝕮𝖗ó𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖈𝖍𝖆𝖕é𝖚”

“… palerma, chapéus há muitos”… Haver há, de certeza absoluta. Nem contesto. Mas não são meus e nunca estabeleci com eles uma relação...