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Lisboa / V.F. Xira / Peniche, Estremadura, Ribatejo ..., Portugal
(Maria Amélia de Carvalho Duarte Francisco Luís)

terça-feira, 7 de junho de 2011

oitava lua de Saturno

ao redor tudo era mar, sal, sul, céu e solidão. 
baixou os olhos e viu-a rolada pelo tempo. uma espécie de pedra-pomes. iniciaram o diálogo ali mesmo no vai-e-vem das vagas quando a tarde descia alaranjando o espelho das águas, 

a porosidade é uma arte, disse-lhe,  deixarmos-nos permeabilizar do outro sem receios de que a nossa forma se torne lexicalmente irregular permite-nos proximal afastamento, 
tomaste-me o pulso e agora um fio apenas, verde-água, à cor  dos planetas vistos de longe, emudece o meu grito, um certo gemido de vento, respondeu-lhe, O silêncio é universal,  sabes? aqui, donde te leio, quase que escuto a ar. respiro-te. madrugas os meus olhos. adormeces no meu peito.  deslizas o meu corpo. tens a forma que te quiser atribuir, tens todos o teus reais atributos e um ainda  mais - o  meu olhar - nele  todo o tempo do mundo, o vagar de que não me sabia,  um amor imorredouro. algures, aguardo que, à  sua força, todos os filamentos se deslacem para que façamos  a viagem, alheios a névoas ou turbinosos  rumores, 

sentar-me-ei na praia, na liberdade que jorra, no aceno das dunas à anémona vermelha,  à montanha  púrpura, até que se desenhe a sétima onda. depois, bem depois, aguardarei a vinda da oitava,   da maior, a  lua de Saturno.  perto de Titã, tão perto como do meu seio, a distância de um deserto, beber-me-á o carmesim dos lábios (mas não os beijos. esses ad eternum, teus ... ).  tu permanecerás  na fenda do meu palato 
na saliência de todos os rochedos 
beijo bravio de bocas, espadachins de línguas
até que as lonjuras nos sejam frutas sãs
e as tempestades se lobreguem silenciosas em ventos felizes 

como antes 
como sempre 
a descrever a  rotação das palavras,  órbita excêntrica na veracidade concêntrica
         [de um só ponto.


"Atravesso desertos, Amado, não os que atravessas; assim, o desencontro."
Filomena Cabral - Amatus, Ed. Afrontamento

Imagem da net

“𝕮𝖗ó𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖈𝖍𝖆𝖕é𝖚”

“… palerma, chapéus há muitos”… Haver há, de certeza absoluta. Nem contesto. Mas não são meus e nunca estabeleci com eles uma relação...