ao redor tudo era mar, sal, sul, céu e solidão.
baixou os olhos e viu-a rolada pelo tempo. uma espécie de pedra-pomes. iniciaram o diálogo ali mesmo no vai-e-vem das vagas quando a tarde descia alaranjando o espelho das águas,
a porosidade é uma arte, disse-lhe, deixarmos-nos permeabilizar do outro sem receios de que a nossa forma se torne lexicalmente irregular permite-nos proximal afastamento,
baixou os olhos e viu-a rolada pelo tempo. uma espécie de pedra-pomes. iniciaram o diálogo ali mesmo no vai-e-vem das vagas quando a tarde descia alaranjando o espelho das águas,
a porosidade é uma arte, disse-lhe, deixarmos-nos permeabilizar do outro sem receios de que a nossa forma se torne lexicalmente irregular permite-nos proximal afastamento,
tomaste-me o pulso e agora um fio apenas, verde-água, à cor dos planetas vistos de longe, emudece o meu grito, um certo gemido de vento, respondeu-lhe, O silêncio é universal, sabes? aqui, donde te leio, quase que escuto a ar. respiro-te. madrugas os meus olhos. adormeces no meu peito. deslizas o meu corpo. tens a forma que te quiser atribuir, tens todos o teus reais atributos e um ainda mais - o meu olhar - nele todo o tempo do mundo, o vagar de que não me sabia, um amor imorredouro. algures, aguardo que, à sua força, todos os filamentos se deslacem para que façamos a viagem, alheios a névoas ou turbinosos rumores,
sentar-me-ei na praia, na liberdade que jorra, no aceno das dunas à anémona vermelha, à montanha púrpura, até que se desenhe a sétima onda. depois, bem depois, aguardarei a vinda da oitava, da maior, a lua de Saturno. perto de Titã, tão perto como do meu seio, a distância de um deserto, beber-me-á o carmesim dos lábios (mas não os beijos. esses ad eternum, teus ... ). tu permanecerás na fenda do meu palato
na saliência de todos os rochedos
beijo bravio de bocas, espadachins de línguas
até que as lonjuras nos sejam frutas sãs
e as tempestades se lobreguem silenciosas em ventos felizes
como antes
como sempre
a descrever a rotação das palavras, órbita excêntrica na veracidade concêntrica
na saliência de todos os rochedos
beijo bravio de bocas, espadachins de línguas
até que as lonjuras nos sejam frutas sãs
e as tempestades se lobreguem silenciosas em ventos felizes
como antes
como sempre
a descrever a rotação das palavras, órbita excêntrica na veracidade concêntrica
[de um só ponto.
"Atravesso desertos, Amado, não os que atravessas; assim, o desencontro."
Filomena Cabral - Amatus, Ed. Afrontamento
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