Lisboa, latitude de 38º 4´N, longitude 9º11’ Oeste de Greenwich
“Correspondência ao mar”. Largo o livro. Vitorino a meu lado. Hoje e ontem. Como naquele dia em que to li em páginas abertas de mim própria. O guardanapo: Branco, inconcluso, amplo. Sobre a língua a navegar, um alfabeto de palavras nunca ditas. E outras, as des_ditas. As rotas, as rotas - maltrapilhas de tão safas -, boquiabertas as palavras. Como as pessoas que, como eu, ainda se espantam de si.
A esplanada está deserta. Já todos foram, a cidade não espera por quem não se apressa… A cidade devora-se na pressa das horas postas. Devora-se nos relógios de cuco.
Nos relógios de sol e na escuridão dos rostos.
Taciturnos. Inoportunos. Não se vislumbram sorrisos. E, contudo, falam que é Primavera. Será que é noutra latitude e não aqui? Olha-me o mar como que em formulação de pergunta: não tens pressa?
Não, não tenho pressa. Em rigor nada tenho por fazer. Reformei-me faz tempo. Aposentei-me, como fica bem dizer… Agora sou dona do meu tempo. Mas não de mim… Estranha a forma como me vejo. Branca, enrugada. Como esta folha de papel a que, por pudor, não toco. Dobrada em forma de triangulo no copo ao lado. O teu lado. O teu copo. O teu corpo. Guardo-te. Guardo-te em mim. Borboleta sob copo de vidro perdi o fulgor das asas. Morri…
Escrevo-te.
não sei porque te escrevo mas escrevo. Tempos houve em que te chamava “naval” e, porque naval te confiei a minha alma de água e sal. Faz tanto tempo …
Sabes
hoje almoçava e, sem que me desse sequer conta, uma lágrima traiçoeira desenhou teu nome em minha cara. Como uma gota de seiva na casca enrugada de meu rosto_árvore. Sulcou-me ácida. Beijou-me a boca. E de novo, na doçura das searas depois das tempestades, voltaste e ali ficaste a sorrir à minha frente. Meu mar, meu mar menino. Senhor do meu destino.
E porque chegaste, larguei o prato, intacto (como me recrimino, há tanta fome no mundo…). Maquinalmente icei a vela do meu barco. Bebi a água inquinada dos esgotos por onde me perdi, escrevi palavras no corpo das vagas, epigrafei as pedras de um jangada e, de mansinho, parti!
Sabes
hoje almoçava e, sem que me desse sequer conta, uma lágrima traiçoeira desenhou teu nome em minha cara. Como uma gota de seiva na casca enrugada de meu rosto_árvore. Sulcou-me ácida. Beijou-me a boca. E de novo, na doçura das searas depois das tempestades, voltaste e ali ficaste a sorrir à minha frente. Meu mar, meu mar menino. Senhor do meu destino.
E porque chegaste, larguei o prato, intacto (como me recrimino, há tanta fome no mundo…). Maquinalmente icei a vela do meu barco. Bebi a água inquinada dos esgotos por onde me perdi, escrevi palavras no corpo das vagas, epigrafei as pedras de um jangada e, de mansinho, parti!
"Correspondência ao mar"...
Olho agora a carta, esta. Sinóptica. Abrevio a chegada. Olho o Bugio: Um barco rompe na linha de cabotagem.
Olho agora a carta, esta. Sinóptica. Abrevio a chegada. Olho o Bugio: Um barco rompe na linha de cabotagem.
Alinho os óculos, miope não vejo nada …