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(Maria Amélia de Carvalho Duarte Francisco Luís)

terça-feira, 14 de julho de 2009

Ode à mudança ...

Nota: este texto foi publicado aqui. Hoje, acidentalmente, vi-o e reli-o. Confesso que nem me lembrava dele ... mas decidi partilhar de novo. Porque a mudança é, no fundo, no fundo, permanente em nós ...

***

Cansei-me de estar cansada de mim. De vogar em túneis permanentemente vazios, sem vozes, que não as que me acompanham vindas de dentro.

Então decidi lavrar as ondas e semear sementes - musas de palavras, planar sobre gelos, patinar sobre vermelhas águas – crivadas de dores e mágoas.

Tinha na algibeira um bloco. Procurei-o. Queria escrever nele cada andamento, cada compasso de uma melodia sem fim …

Tacteei a medo. Tinha a certeza de o ter ali. Procurei durante tanto e tanto tempo…
Finalmente encontrei.
Não passava de uma pedra de gelo e, no fogo destemperado de me encontrar, a pele em labareda o havia reduzido a um fragmento fino, um quase nada. Pouco restava. A Fada, que eu fora, havia arrefecido, perdido as asas. Esfumadas, caiam ao longo do corpo e esse, estava quase, quase morto …

Então procurei na greda, na terra por onde palmilhava. E o que encontrava eram somente poeiras… vermelhas, incandescentes. Queimavam, como escorrente soldadura, nas retinas dos olhos …

De mão descalças, abracei uma a uma, como se fossem elas, as pedras dispostas da calçada. Seguras, arrumadas… Procurava o rasto, o sulco dos teus passos. Não estavam lá…

Cansada de estar cansada, decidi que cantaria os Astros, os Planetas, as bocas abertas das gaivotas. Decidi que cantaria as aves do paraíso. Que faria do gelo bilioso um permanente gozo dos corpos retidos no recobro de repetidos abraços.

Em metáforas de poemas. Assim seria… Cantaria a Alegria.

Semeei sobre o anil das ondas a loucura impúbere de milhões de palavras.

Decidi que, e por homenagem a mim, seria palhaço, seria jogral, arlequim … cantaria uma a uma, as escamas de todos os vertebrados peixes.

Que me amamentaria dos seios de todas as orcas do Planeta.

Que seria filha da Terra e do Mar. Que exaltaria um a um, os Deuses do Panteão. Geia, Neptuno, Plutão ...

Que deixaria pegadas impressas nas abóbadas celestiais, intimas, cantos de cio e pranto.

Que ergueria triunfante a taça cálice de carne e sangue. Nas vogais abertas dos meus versos.

E que o meu riso soaria para além do rio silenciado do meu pranto.

E que os meus olhos reflectiriam os lagos de todas as cidades – aquelas que interiores, não se projectam nos espelhos dos Mares.

Hoje, desencontrada da Fada que por aqui viajava, não sei mais quem sou, mas sinto que a alegria de viver, ainda que seja dentro de um umbral de palavras, voltou.

Que os meus passos me conduzem para além das margens de um rio que, subterrâneo, habita em mim e que, em cascatas, tal corças, salta e brota.

Que fareja os sons da madrugada e que se matiza em favos de Mel, na obra de mil abelhas… obreiras de um tesouro – este reduto – onde aguilhoei as dores de estar ausente de ti. As prendi a grossos troncos, os rolei em rios rápidos e eles, floresceram, por fim …

Na certeza de que, não sendo Fada, me aceito finalmente a mim!
Poeta, louca, que seja ... mas seja, SIM!

“𝕮𝖗ó𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖈𝖍𝖆𝖕é𝖚”

“… palerma, chapéus há muitos”… Haver há, de certeza absoluta. Nem contesto. Mas não são meus e nunca estabeleci com eles uma relação...