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(Maria Amélia de Carvalho Duarte Francisco Luís)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

radical mother? no ... but

Confesso que jamais pensei em falar de mim e do que me toca de forma tão directa. Sempre fui avessa a imiscuir a família nos meus "devaneios literários". A família tem um papel em minha vida que não cabe em nenhum post que algum dia fiz ou venha a fazer. Os meus filhos, particularmente, dão um sentido maior a cada etapa que, tenazmente, tento superar.
Este post será, talvez a excepção.
Porque excepcional é o momento...

Na praia, ontem, fim de uma manhã luminosa, início da tarde. Mergulhos, corridas (as vossas que eu fico mesmo na toalha...) E o vosso retorno a mim.
O virar da agulha da minha atenção.

Ao lado fica por agora o livro que me tem feito companhia e que tanto me sensibilizou.
É, é verdade. "No teu deserto", malogrado o vaticino algo "sinistro" de uma senhora que, amavelmente, tentou impedir que o comprasse numa das inúmeras papelarias do Vasco da Gama, com um tão desconcertante quanto inesperado:
"... não vale nada. Ganha fama e deita-te a dormir...",
viria a revelar-se um espaço de leitura em prosa-poética, belíssimo. Miguel Sousa Tavares, uma vez mais, ainda que num registo diferente, não me desiludiu.
Sophia-mãe, tal como eu em relação aos meus, estará muitíssimo orgulhosa ...

"...mãe, vou fazer-te uma razta... vais ficar uma mãe radical"...
"...não ... por favor, como desembaraço depois o cabelo?"...
"...esquece! Deixa lá... mas que ficavas fixe, ficavas...".

Contagiaste-me, filho.
Não porque queira ser "radial". Mas porque tu quisesses-te que eu, tua mãe "cota", ficasse parecida contigo, meu especial raztafare... E tu, filha, pactuante, num riso sem limites:
"fica quieta, mãe ... vais ficar fixe ..."

Foi assim.
Ganhei uma razta. Um ninho de ratos, digo eu... Um emaranhado de fios por debaixo do cabelo que insisto em manter longo. E o sabor, o prazer inigualávell, inesquecível, dos vossos dedos, meus filhos - de ambos -, em meu couro cabeludo. E desta partilha de espaço e de afectos. E das memórias de quando, eu mesma, menina, penteava minha mãe, se a "apanhava a jeito". Em regra quando acamada, doente... Um pente de tartaruga de que até hoje não me separei. Partido, sem cabo. Mas que guardo com tesouro ...

"era fixe que a não tirasses...", pedes. Olho-te de frente. Desconcertas-me. Decido:
- Não, não tirarei. Será o meu amuleto.

Amanhã é outro dia, depois outro. A vida passa. Ficam em nós os momentos em que o sangue do nosso sangue se nos igualiza e nos identificamos com as suas escolhas.

Sophia, porventura, nas suas, Miguel.
Nos desertos por onde o seu impulso o fez caminhar. E ela, mãe, em cais, desejosa de o reabraçar.
Eu nas viagens dos meus "raztafare"/surfista" e "certinha mergulhadora"...
Esperar-vos em praia. Desejar que uma estrela vos conduza sempre ao cais do meu colo.
E ser-vos âncora que amarra e solta. Que não retêm para além do que é "legítimo" reter.
Com o coração nas mãos, sempre.

Das vossas escolhas, do apoio incondicional que vos dou - pese embora a tentativa de vos demover por medos - , se faz o vosso e o meu caminho.

Há muito que deixei de querer ser a vossa mãe, ou melhor, continuo a querer, mas... o que mais desejo é ser a vossa melhor amiga.
Radical? Raztafare? O que for será ... a vosso lado.

“𝕮𝖗ó𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖈𝖍𝖆𝖕é𝖚”

“… palerma, chapéus há muitos”… Haver há, de certeza absoluta. Nem contesto. Mas não são meus e nunca estabeleci com eles uma relação...