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(Maria Amélia de Carvalho Duarte Francisco Luís)

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

In memorium

"Do diário de Amaralis, 21 de Agosto de um ano qualquer …

In memorium


Julião,

Onde foi que me perdi de ti? Onde foi que a magia que nos envolveu se perdeu no medo de encarar de frente a realidade? Onde foi que encontrei veredas livres que me tomaram prisioneira, pária desta saudade?

Não me valem riquezas neste mundo se te sonho, se te desejo e me afogo num rio seco, retalhado a céu aberto no vale de minhas mágoas (que já nem choro… naufrago no mais hostil do meu silêncio).… se te sei de ti ausente? Bebo o profano e o sagrado num só cálice e não me reconheço mais. Não sei quem sou. Tropeço nas imagens desfocadas que o leito das águas me devolve. Esbarro com a silhueta recortada de um sol já morto nos confins de um horizonte. Fantasmas. Espectros duvidosos. Faunos e duendes já não me acodem. Nem sequer as ninfas das águas. Sequei por dentro. Como uma árvore, morrerei de pé. De mim, far-se-ão novas formas e, a vida terá novo propósito em ti. Folhas de papel, barcos que uma qualquer criança colocará a flutuar nas águas turquesa de minha ilha… aquela em que, num Inverno sem fim, te reconheci (e tu, no gelo dos antípodas, me reconheceste a mim).

Navego. Navego sempre, que o meu destino é ser mar, oceano e vaga por onde bolina a incerteza. Ou ser rio. Rio sem nome e sem margem. Rio de peixes dourados em formas de lua cheia. Ou ainda, porque não, lagos. Lagos repletos de nenúfares… seja.

Numa bola de cristal vejo aos rios… Tal como os que nos separam, estes já não tem mais pontes. O que o Inverno, uma a uma, todas derrubou… para sempre.

Olho ao espelho este corpo que não conheceu o teu. Vejo-o tão transitório, tão volátil. Tão pouco duradouro que me questiono até quando terei forças para encarar a luz do dia. Hoje mais um mês de ausência de ti. Contei todos os dias, Julião, todos os dias, sabes? Como se estivesse encarcerada e o carcereiro fosse eu própria. Leste bem. Eu própria. Porque nunca consegui esquecer-te (não, não me agradeças por te lembrar…). Agradece-te a ti… Sim, recordo nas ínfimas partículas da luz que resta em minha vida.

Julião … oiço agora um piano na falésia, encosto serena o corpo à vaga e vou…
Atravesso nenhures uma nova estrada. Um caracol fá-lo-ia mais rápido do que eu, acredita. Existe no meu trajecto a tua baba, que me impede de andar mais rápido. Como uma cola visceral, que, se por um lado me inibe a crescer, por outro, me faz acautelar a cada passo. O que me espera para além do risco branco que delimita o negro deste alcatrão?

Estou exausta, Julião. Conduzo … o carro guina desgovernado. Não sei se o conduzo ou ele a mim. Uma luz, Julião… uma luz. Lá em baixo o abismo …

Aqui.”

“𝕮𝖗ó𝖓𝖎𝖈𝖆 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖈𝖍𝖆𝖕é𝖚”

“… palerma, chapéus há muitos”… Haver há, de certeza absoluta. Nem contesto. Mas não são meus e nunca estabeleci com eles uma relação...